Educar....

Educar é realizar a mais bela e complexa arte da inteligência.
Educar é acreditar na vida, mesmo que derramemos lágrimas.
Educar é ter esperança no futuro, mesmo que os jovens nos decepcionem no presente.
Educar é semear com sabedoria e colher com paciência.
Educar é ser um garimpeiro que procura os tesouros do coração.

In: Prefácio do livro Pais brilhantes, professores fascinantes, de Augusto Jorge Cury

Ser professor é...

Professar a fé e a certeza de que tudo terá valido a pena se o
aluno sentir-se feliz pelo que aprendeu com você e pelo que ele lhe ensinou...
É consumir horas e horas pensando em cada detalhe daquela aula que, mesmo ocorrendo todos os dias, a cada dia é única e original...
É entrar cansado numa sala de aula e, diante da reação da turma, transformar o cansaço numa aventura maravilhosa de ensinar e aprender...
É importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma planta muito rara que
necessita de atenção, amor e cuidado.
É ter a capacidade de "sair de cena, sem sair do espetáculo".
É apontar caminhos, mas deixar que o aluno caminhe com seus próprios pés..
É ser mãe, pai, irmão, avô,
É ser ciência, paciência.
É ser ação, é ser bússola, é ser farol.
É ser luz, é ser sol.
É ser artista, malabarista, pintor, escultor, doutor, musicólogo, psicólogo..

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Só se aprende a cozinhar cozinhando

                                                                              Laura Monte Serrat Barbosa



Era uma vez um aprendiz de cozinheiro que estava "louquinho" para colocar a mão na massa. Não via a hora de começar a freqüentar as aulas para aprender a fazer quitutes e a decorá-los como sempre imaginara.

Estava ansioso pela primeira aula. Seu coração estava disparado naquela manhã em que iniciaria seu curso. Levantou muito cedo, tomou banho, perfumou-se, pegou o material, tomou seu café e partiu rapidamente para a cozinha experimental, onde teria aula. Junto com ele outros aprendizes aguardavam, igualmente ansiosos, quando finalmente entrou o mestre-cuca Romeu.

Alto e esguio, ele não se parecia em nada com o mestre-cuca idealizado pelos alunos - um tipo mais gordinho, por experimentar as coisas gostosas que fazia. Além de alto, tinha um bigode muito certinho, o uniforme impecável, as unhas feitas e esmaltadas, indicando ser uma pessoa organizada e exigente com a limpeza e com a aparência.

Romeu iniciou a aula dizendo: "Hoje vamos falar de facas. Vocês vão conhecer as várias facas, aprender sua utilidade e a distingui-las rapidamente."

Decepção geral. Todos esperavam aprender a cozinhar, mas passaram a manhã aprendendo sobre facas. No dia seguinte, tiveram aula sobre colheres e conchas; depois, sobre panelas e vasilhas; mais tarde, sobre como descascar legumes; no outro dia, aprenderam alguns macetes de como limpar carnes. Depois de alguns meses, os alunos já haviam tido muitas aulas. Já sabiam limpar peixes, preparar alguns temperos, fazer arroz de várias formas, mas nunca tinham feito uma refeição completa. Aprendiam, em cada aula, uma parte importante da culinária: ora sobre grãos, ora sobre verduras, ora sobre frutas, ora sobre sobremesas, ora sobre instrumentos, e assim por diante.

Os alunos que tanto queriam aprender a cozinhar já estavam desanimados. Mais ouviam sobre o modo de fazer do que faziam e, o que era pior, nas aulas práticas só podiam ficar observando o mestre-cuca, para aprender o jeito certo de cozinhar.

O que era um desejo passou a ser uma tortura, e os aprendizes de cozinheiro já não queriam mais saber de cozinhar, nem de aprender qualquer coisa relacionada ao assunto.

Até iam para a aula, mas preferiam ficar jogando truco no bar da esquina a ouvir do mestre-cuca macetes de temperos, a simular refeições, a memorizar o tempo de descongelamento em relação ao peso do alimento e a potência do forno em relação ao cozimento do prato, a preparar conservas virtualmente e a aprender outras táticas necessárias para passar na "Grande Prova Cozinhalar", em que eram selecionados os melhores aprendizes de cozinheiro. Os vencedores dessa prova entravam num curso ministrado na maior cozinha experimental do mundo, onde iriam aprender a ser cozinheiros de verdade.

O aprendiz de cozinheiro então pensou que talvez fosse por isso que os aprendizes de cozinheiro faziam de conta o tempo todo. Iam perdendo o ânimo diante do grande tempo de aprendizagem que precisavam para, um dia, realizarem o grande sonho de cozinhar uma refeição completa, de verdade, sem simulação e sem o controle exagerado do mestre-cuca, que, até então, só se preocupava com a realização correta de todas as ações necessárias dentro de uma cozinha experimental.

"Puxa! Como é difícil aprender a cozinhar", pensou o aprendiz de cozinheiro. "Começamos o aprendizado quando completamos dois anos de idade e terminamos com mais ou menos 23 ou 24 anos, isso se não desanimarmos muito e nem precisarmos repetir alguns tópicos por recomendação do mestre-cuca Romeu."

Por que será que Romeu não ensinava a cozinhar cozinhando? Por que não ensinava a usar as facas e colheres usando-as? Por que os alunos não aprendiam a fazer uma refeição por inteiro, e sim aos pedaços?

Deve ser por isso que os aprendizes de cozinheiro não queriam aprender a cozinhar e nem ouvir falar em ir para a cozinha experimental. Já imaginou que desastre se todos os aprendizes de cozinheiro desistissem de aprender a cozinhar?

Como iríamos alimentar o mundo se cozinhar fosse visto como algo desnecessário, enfadonho, moroso e sem significado?

Talvez fosse por isso que os outros aprendizes gostavam de ir para a cozinha do professor Pichô. Lá, eles ficavam à vontade ao mesmo tempo que estavam aprendendo. Já desde os primeiros anos, aprendiam a cozinhar para a vida e, melhor ainda, enquanto ela estava sendo vivida. Isso dava um sentido para o aprender.

Os alimentos ora eram trabalhados individualmente, ora em relação a outros, e os alunos faziam interagir sabores, temperos e combinações diferentes. O uso das facas e colheres ia sendo aprendido enquanto se cozinhava.

Os sentimentos de realização, ou de aflição diante de uma receita nova, ou de medo de que os outros não gostassem eram trabalhados ao mesmo tempo que o aprendiz ia aprendendo e fazendo.

Deve ser por isso que o aprendiz de cozinheiro preferiu uma cozinha quentinha, dialética e humanizada ao invés de uma fria e experimental.

Caro educador, pense nisso e reflita sobre a fome de conhecimento, sobre a desnutrição cultural e de valores, sobre a dificuldade que estamos tendo de, em 22 anos, entregar a um sujeito os mantimentos e confiar na sua capacidade de preparar a sua própria refeição e a de seus iguais.

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